terça-feira, 29 de setembro de 2009

Seria o Papa tricolor?

Com a bênção do Papa
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GALERIA

Padre Fernando, que mora e estuda na cidade de Roma desde 2003, entrega a camisa do Fortaleza ao papa Bento XVI em visita ao Santo Pontífice no último domingo, no Vaticano

Papa Bento XVI recebeu a camisa do Fortaleza e posou com o manto tricolor para a fotografia, que ficará para a história
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Tudo é válido para o time sair da incômoda posição em que se encontra na Série B e buscar escapar da degola

Com as orações e bênçãos do papa Bento XVI, o Fortaleza enfrenta o Ipatinga, às 21h50 de hoje, no Estádio Castelão, com o desejo de dar mais um passo para interromper o calvário que o sustenta na última posição da Série B do Campeonato Brasileiro. O padre Fernando, que entregou a camisa do Leão ao Sumo Pontífice (ver matéria ao lado), aumentou as fileiras dos que irão, hoje, tentar incentivar o time a engatar uma vitória na outra, dentro da competição.

Do papa, o Leão aceita a torcida a distância, porém, o torcedor comum é convocado a unir sua voz para o time chegar mais próximo de sair da zona. Os dirigentes esperam que 15 mil pessoas se façam presentes, dada a motivação e o preço do ingresso, outra vez barateado.

"No que estiver ao alcance do homem fazer, Deus não vai mover uma palha, mas quando nossas forças se extinguirem, virá a mão de Deus em nosso socorro", disse o técnico Roberto Fernandes, em sua apresentação, quando indagado sobre fé e esporte.

O martírio da torcida em ver o time lutando para sair das últimas colocações vai diminuindo pouco a pouco, conforme analisa o técnico. "Temos que pensar jogo a jogo", completou o comandante do Leão.

A vitória sobre o Campinense na última partida encheu a torcida de fé e confiança de que dias melhores virão, mas Roberto Fernandes ainda é comedido quanto aos otimismos exagerados. "Eu acredito, em virtude de ter passado por essa situação, que é preciso ter calma. Enquanto a gente não sair da zona de rebaixamento, não teremos feito nada. Tem que ter concentração total, empenho total, mas demos um passo. Na rodada passada, faltavam sete pontos para sair da zona, agora já faltam menos. Temos a esperança de que se conseguirmos superar o Ipatinga e vencermos o jogo seguinte, dará para sair", disse.

Mudanças

Roberto faz algumas modificações na equipe, embora não tenha confirmado. Primeiramente, o zagueiro Amarildo retorna ao time no posto de Gilmak, punido com o terceiro cartão. O volante Coutinho treinou entre os titulares, na vaga de Ticão e Rogerinho formou dupla com Luiz Carlos, pois Marcelo Nicácio não tem escalação certa, podendo até ir no banco.

Adversário

No Ipatinga, o técnico Émerson Ávila confirmou a volta do atacante Marcelo Ramos no lugar do machucado Diego Silva. O objetivo é recuperar os pontos perdidos no empate em casa, e sem gols, contra o Bahia, na última rodada da Segundona.

EM ROMA
Pe. Fernando não esconde a paixão pelo Fortaleza

O padre cearense Fernando Chaves Freire, de 48 anos, foi quem teve o privilégio de se encontrar e entregar a camisa do Fortaleza ao papa Bento XVI.

Ele está na Itália desde 2003, estudando na Universidade de Roma, onde faz especialização na área bíblica. Pe. Fernando esteve no último domingo no Vaticano, em visita ao papa, com vários bispos do Estado do Ceará e do Piauí. Esse evento, só acontece de cinco em cinco anos, e o sacerdote não perdeu a oportunidade de levar a camisa do time do coração e entregar ao Sumo Pontífice. "Ele é torcedor ardoroso do Fortaleza, sempre está querendo saber informações do time. Então, aproveitou essa chance de se encontrar com o papa Bento XVI, e levou a camisa do Fortaleza", contou padre Gilson, que recebeu as fotos enviadas pelo amigo católico.

Pe. Fernando pertence à arquidiocese de Fortaleza e já prestou serviços para a paróquia do Conjunto Ceará.

FICHA TÉCNICA

Fortaleza
Douglas; Dedé, Amarildo, Edson e Eusébio; Coutinho (Ticão), Leandro, Cristian e Elton; Luiz Carlos e Rogerinho. Técnico: Roberto Fernandes

Ipatinga
Fred; Alex Silva, Alessandro Lopes, Léo Oliveira e Marinho Donizete; Fernando Miguel, Lucas, Leandro Brasília e Francismar; Amílton e Marcelo Ramos. Técnico: Émerson Ávila

Competição: Série B do Campeonato Brasileiro.
Estádio: Castelão, em Fortaleza (CE).
Data: 29 de setembro de 2009. Horário: 21h50min.
Árbitro: Rogério Lima da Rocha. Assistentes: Ivaney Alves de Lima e Ailton Farias da Silva (Trio de Sergipe).
Ingressos: R$ 7,00 e meia R$ 3,50.
Transmissão: Rádio Verdes Mares AM810 Khz e Pay-per-view

IVAN BEZERRA
REPÓRTER


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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Eternamente Mozart

(por Tom Barros, do Diario do Nordeste)
Um concerto de Mozart

Felizes os que nas décadas 50/ 60 viram em ação o ídolo Mozart Gomes. Aos 16 anos, menino ainda, a todos encantou pela arte refinada de seu futebol. E assim chegou ao Fluminense e ao Maracanã. O Mozart do Fortaleza. O Mozart de dribles curtos, passes perfeitos, bicicletas monumentais, leitura de jogo acima dos comuns mortais, goleador implacável. O mais perfeito jogador cearense que vi em ação. O Mozart do América/CE na Taça Brasil de 1966. Mozart, artista da bola na famosa Seleção Cearense de 1962, terceira colocada Campeonato Brasileiro. Tantas vezes campeão. Também foi vice-campeão da Taça Brasil de 1960 pelo Fortaleza. Embora de família tricolor, brilhou no Ceará em 1967. Talvez inspirado pelo mesmo nome do genial compositor austríaco, Mozart jogava por música. Tive sorte: não vi apenas um concerto de Mozart, senão incontáveis dentre tantos que ele deu pelos gramados do mundo. Saudade.

Quando morre um ídolo

(por Alan Neto, de O Povo)

O craque e o mito

08 Set 2009 - 01h29min

> MOZARZINHO, ontem convocado por Deus, foi o maior jogador do futebol cearense que meus olhos já viram. Melhor que seu irmão Moésio, um bom jogador, porém muito melhor técnico. Mozart tentou ser treinador, mas não deu certo. É comum um grande craque, ídolo, ou mito, não se transformar em técnico vitorioso. São raros os casos. Uma vez pedi a Nilton Santos e ao mestre Ziza para que decifrassem este enigma. A versão dos dois foi idêntica.

> O QUE disseram. O craque não dá bom técnico porque, quando jogador, não fica atento, nem presta a atenção na preleção do treinador. Sabem tanto, que não estão nem aí. Como então acumular conhecimentos teóricos se a prática é outra bem diferente? O inesquecível Saldanha repetia esta mesma versão, numa frase simples. “Ao cobra não se ensina nada porque ele já sabe tudo. É entregar a camisa e mandá-lo entrar em campo. Aí, sim. Podem deixar que ele resolve”. Zizinho e Nilton Santos fracassaram como técnico.

> NO futebol cearense a história não registra que um craque tenha se transformado em técnico vencedor e de sucesso. Aliás, este rol de craques, genuinamente cearenses, é muito restrito. Que me lembre, depois de Mozarzinho, Amilton Melo e mais recentemente Clodoaldo. Este, infelizmente, perdeu o bonde da história. Não aguentou o peso da fama, dos holofotes e se perdeu na estrada, sem achar o caminho de volta. Poderá aparecer alguém pra contestar de que Zé Eduardo foi um craque maravilhoso, que em campo desequilibrava. É verdade. Só que Zé Eduardo era baiano.

> FAÇAM-ME um grande favor de não confundirem craque com ídolo. A diferença chega a ser (quase) abissal. Os três maiores goleadores e ídolos do futebol cearense Gildo (Ceará), Croinha (Fortaleza) e Pacoti (Ferrão) balançavam as redes de todas as formas. Do lado de fora, os torcedores iam à loucura com seus gols memoráveis. Porém, não foram craques na verdadeira acepção da palavra. Croinha não dava um passe daqui pra ali. Pacoti mandava Zé de Melo enfiar a bola em profundidade, que ele resolvia no pique com aquele corpanzil de gigante levando os zagueiros de roldão. Gildo era mais refinado que os dois, sobretudo pelo incrivel reflexo dentro da área. Sabia, como ninguém, o momento em que a bola passaria pra estufar as redes. Que bela história este trio tem. E só um, no caso Pacoti, era cearense. Gildo, o fenomenal pernambuquinho e Croinha, o maranhense caladão e misterioso.

> MAIOR fase de Mozarzinho no futebol cearense foi vestindo a camisa do Fortaleza, na ponta-esquerda, cria e DNA tricolor, titular aos 16 anos, quase um menino. Imberbe e meio gorducho. Moésio, o irmão mais velho, o chamava de “pimba d’água”. Na seleção cearense, formando dupla com Gildo, que maravilha! Já imaginaram os zagueiros tentando barrar os dois? Saíam grogues e catatônicos de campo. Esta fase de ouro, a maior de todos os tempos, acompanhei de perto. Sou desta época, sim, com muito orgulho. Porque esta geração jamais se repetirá no futebol cearense. Na minha retina este filme está sempre passando, nos meus momentos de recordações e lembranças.

> GRANDE descobridor de Mozart, como ponta-de-lança, caindo pela direita, mesmo só chutando de esquerdo, foi Gradim, na época técnico do Náutico. Com seu olho clínico concluiu que um canhoto jogando pela direita, com dribles estonteantes, desequilibraria qualquer zagueiro que ousasse marcá-lo. O velho mestre tinha razão. Bingo! Foi nesta posição que o lendário Zezé Moreira viu Mozarzinho atuar em Recife e o levou para o Fluminense onde também brilhou intensamente. Só não chegou à seleção brasileira porque a geografia massacrante, a discriminação, o preconceito, perversos e cruéis contra nordestinos, não permitiram.

> MOZART, registram os albarrábios (que palavra!) do grande historiador Airton Fontenele vestiu a camisa do Ceará em 67, passagem rápida, sem muito brilho. Ainda atuou com a camisa do América, naquele timaço que disputou a Copa do Brasil, sob o comando do também saudoso Gilvan Dias. Parece que estou vendo Mozart, cabeça ensopada de sangue, como a camisa rubra, tentando furar a retranca do Bahia e o PV efervescente como um caldeirão borbulhante. Seu irmão Moésio era o técnico alvinegro na inesquecível conquista do tetra, aquele do memorável gol de Tiquinho. Moésio, técnico, era fora de série. Reza a lenda que o pai dos dois, o austero coronel Mozart Gomes, tricolor a vida toda, quis deserdá-los por conta desta troca de camisa por ele jamais aceita. Justo o do histórico rival. Como lenda é lenda, esta versão nunca se confirmou.